Caso Isabella Nardoni. Um novo Júri?

A condenação de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, no último sábado (27), além de evidenciar como o direito de defesa no país é mal compreendido, levanta o debate sobre a necessidade ou não de se pedir um novo Júri para o casal. Anna Carolina foi condenada a 26 anos e Nardoni a 31 anos de prisão, por homicídio triplamente qualificado pela morte de Isabella, 5 anos, em março de 2008. O casal também responde por fraude processual.

A defesa, representada pelo advogado Roberto Podval, ainda estuda se pedirá um novo Júri. O recurso, se for feito, será baseado em dispositivo do Código de Processo Penal em vigor na época do crime que garantia automaticamente um novo Júri a condenados a mais de 20 anos de prisão. A norma, contudo, deixou de existir cinco meses após o crime, devido à reforma no Código de Processo Penal. A alteração se deu com a Lei 11.689, sancionada pelo presidente Lula em junho de 2008 e que entrou em vigor em agosto do mesmo ano.

A dúvida é se valerão as normas do sistema processual antigo, que é da época do crime, ou se a norma a ser aplicada é aquela em vigor quando da sentença. Especialistas consultados pela revista Consultor Jurídico divergem sobre o tema.

A procuradora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Luiza Nagib Eluf, ressalta que tecnicamente é possível a defesa entrar com o recurso para pedir o novo Júri, “mas como é norma híbrida (processual e penal) não há muitas chances de o pedido ser concedido”. Segundo ela, a norma processual não retroage para favorecer o réu. Se fosse material, poderia retroagir, mas como é processual, não.

Para Luiza Eluf, pedir outro Júri é como patinar no gelo. “Seria absurdo refazer tudo o que foi feito nessa última semana para chegar ao mesmo resultado, com o mesmo custo material e emocional que o julgamento gerou para o país.” A especialista vai além: “A anulação deste Júri traria descrédito para a Justiça”.

O criminalista Jair Jaloreto Junior também reforça que norma processual penal não retroage, mas que uma possível modulação dessa norma não é inconstitucional, “não será contrária a todo o ordenamento jurídico”. Entretanto, Jaloreto entende que dificilmente o Judiciário vai aderir a essa tese. “É uma tese minoritária. Não existe jurisprudência formada ainda sobe o tema”, disse e acrescentou que esse pleito ainda será objeto de muito trabalho por parte dos advogados.

O jurista Luiz Flávio Gomes — que acompanhou pessoalmente todo o julgamento do casal — explica à ConJur que a supressão de um recurso, que faz parte diretamente do direito de defesa, afeta o ius libertatis dos réus. O professor destaca que não está pacificado pelos tribunais se a norma processual que cancela um recurso é uma norma genuinamente processual ou seria uma norma processual com caráter penal. Em artigo, publicado em 10 de junho de 2008, o professor escreveu: “A regra trazida pelo artigo 4º, pertinente à extinção do Protesto por Novo Júri, se evidencia prejudicial ao direito constitucional da ampla defesa, sendo impossível conferir-lhe eficácia retroativa, posto que prejudicial ao réu”.

Ele  ressalta que se fosse o advogado do casal pediria novo Júri, pois entende que a norma processual que cancela um recurso tem caráter penal, porque afeta diretamente o direito de ampla defesa. De outro lado, registra que, emocionalmente e pelo desgaste, não seria uma boa opção pedir um novo Júri.

“Concordo que as normas sobre recursos são processuais, de aplicação imediata, porém, quando há o cancelamento de um deles isso ganha outra dimensão, a material. Nenhuma lei penal (ou processual com caráter penal) pode retroagir para prejudicar o réu”, disse.

Ainda segundo o jurista, o crime de homicídio qualificado é classificado como hediondo, logo, o casal terá de cumprir 2/5 da pena no regime fechado. O que equivale a 13 anos para Nardoni e 11 anos para Anna Carolina. Já o tempo que ficaram presos, antes do julgamento, será descontado da pena final. Vale destacar, também, que para cada três dias de trabalho debita-se um da pena.

O Júri do casal durou cinco dias e foi marcado pelo clamor público e pelo sentimento de punição social. A condenação, na prática, se deu bem antes do julgamento. Durante o Júri, manifestantes bateram literalmente nos portões do Fórum de Santana (SP) para pedir Justiça pela morte de Isabella. Fogos de artifícios foram usados no momento em que o juiz Maurício Fossen, responsável pelo caso, fazia a leitura da sentença.

Fonte: Consultor Jurídico

Published in: on março 31, 2010 at 22:03  Deixe um comentário  

Câmara regulamenta Intervenção da União em estados e no DF

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania aprovou nesta quarta-feira (31) o Projeto de Lei 5456/09, do Senado, que regulamenta o processo de intervenção da União nos estados e no Distrito Federal, decretada a partir de pedido do procurador-geral da República aprovado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Como tramita em caráter conclusivo, o texto será encaminhado para sanção presidencial, caso não haja recurso para análise em plenário.

O relator do projeto na CCJ, Vicente Arruda (PR-CE), explica que a proposta foi sugerida pelo presidente do STF, Gilmar Mendes, a partir de práticas já adotadas pelo órgão. “As disposições expressam a melhor maneira de tratar o processo e julgamento da representação interventiva, sendo minucioso e adequado para dirimir as questões que possam surgir”, afirmou o deputado.

A Constituição determina que o procurador-geral da República poderá propor a intervenção da União nos estados e no DF nos casos de recusa à execução de lei federal e para garantir o cumprimento dos seguintes princípios:
– forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
– direitos da pessoa humana;
– autonomia municipal;
– prestação de contas da administração pública, direta e indireta;
– aplicação da receita resultante de impostos estaduais na manutenção e no desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

Liminar
Segundo o texto aprovado, a petição do procurador-geral poderá solicitar a intervenção de forma liminar, ou seja, urgente e temporária. Neste caso, o relator pode decidir ouvir os órgãos ou autoridades responsáveis pelo ato questionado, o advogado-geral da União ou o procurador-geral da República, antes da votação do pedido. O prazo das audiências, contudo, não pode ultrapassar cinco dias contados a partir do recebimento do pedido de intervenção. Os pedidos de liminares somente serão aprovados pela maioria absoluta dos membros do STF.

Pedidos de informação
Após a decisão do pedido de liminar, ou caso não haja esse pedido, o relator deverá solicitar informações ao estado, que tem até 10 dias para prestá-las. Depois desse prazo, serão ouvidos o advogado-geral da União e o procurador-geral da República, que também terão 10 dias para se manifestar.

Se considerar necessário, o relator poderá requisitar informações adicionais, designar perito que elabore laudo sobre a questão ou reunir-se com especialistas no assunto.

Decisão final
O projeto estabelece ainda que o ministro relator solicitará data para o julgamento, que deverá contar com a presença de pelo menos 8 dos 11 ministros do STF. A decisão final pela intervenção ou pela não-intervenção depende do voto de pelo menos seis ministros do Supremo. Essa decisão será irrecorrível.

Caso o STF decida pela procedência do pedido de intervenção, o presidente da República deverá ser informado para que publique o decreto de intervenção e submeta-o à análise do Congresso em até 15 dias.

Fonte: Agência Câmara

O que você acha disso?

Published in: on março 31, 2010 at 18:28  Deixe um comentário  

Indenização de R$ 1,45 milhão à família de Frejat do Barão Vermelho

O Banco do Brasil foi condenado a pagar cerca de R$ 1,45 milhão por danos materiais à família do roqueiro Frejat, famoso por integrar o grupo Barão Vermelho. O pagamento já foi feito.

Em 2005, a família de Roberto Frejat entrou com uma ação pedindo indenização pelo furto de joias e moedas de ouro históricas de um cofre em uma agência do banco. A decisão é da 3ª Câmara Cível do TJ do Rio de Janeiro.

De acordo com a sentença, de novembro de 2008, os autores da ação – o pai, a mãe e o roqueiro Frejat -, tinham a receber R$ 1.143.096,97 por danos materiais. Segundo a decisão, esse valor tinha que ser corrigido desde 21 de junho de 2007 até a data do pagamento pelo Banco do Brasil.

O Banco do Brasil já pagou o valor corrigido à família. Entretanto, por ter feito o pagamento após a data estipulada na sentença, foi multado em 10% do valor da reparação. A assessoria de comunicação da instituição informou que o Banco do Brasil vai recorrer dessa multa.

A sentença destaca que, com relação às joias, “além do simples peso do metal precioso de que é feita”, também foi necessário avaliar o “desenho e a mão de obra dispensada para a sua confecção”.

 A sentença afirma ainda que “os autores, jamais, em tempo algum, ofereceram em penhor qualquer joia. Ao contrário, diante de seu alto valor, confiaram em uma instituição financeira do porte do Banco do Brasil para, em local supostamente seguro (cofre em banco), guardá-las.” O valor das joias foi avaliado em R$ 684.418,00.  

Já para avaliar as moedas de ouro históricas, do tempo do Brasil Império, além dos elementos utilizados para a avaliação das joias, também foi levado em conta que a família Frejat queria, simplesmente, guardá-las em um local protegido. “Os autores não tinham qualquer interesse em negociá-las. Por isso, a guarda”, afirma a sentença. As moedas foram avaliadas em R$ 458.678,97. (Com informações do G1).

Fonte: Espaço Vital

Published in: on março 31, 2010 at 13:19  Deixe um comentário  

Conhecido do cartunista Glauco fala dos efeitos do chá do Santo Daime

Fábio Mota passou 40 dias no Amazonas e chegou a visitar a casa do cartunista assassinado Glauco Villas Boas, o ex-líder da Igreja Céu de Maria.

Consumido há pelo menos 300 anos por comunidades indígenas da Amazônia, antes de ser transportado para os rituais do Santo Daime, o chá alucinógeno originado da planta ayahuasca, foi por três anos a solução encontrada por Fábio Mota para os seus problemas de depressão e “elevar o lado espiritual”, como afirma o ex-praticante do daime que chegou a visitar a casa do cartunista Glauco Villas Boas, assassinado junto com o seu filho por um freqüentador da Igreja Céu de Maria, liderada pelo desenhista.

Foto: Divulgação

Mota passou a seguir a doutrina daime com poucos mais de 20 anos, convidado por um amigo. A busca por novas experiências espirituais o levou ao Amazonas, região onde o fundador do Santo Daime, conhecido como mestre Irineu, recebeu uma visão de Maria, mãe de Jesus, instigando-o a inaugurar a religião que prega o auto-conhecimento por meio de experiências ritualísticas. “Foi lá que eu me fardei – que é tipo um batismo. Eu voltei de lá já sabendo o que eu queria – o daime”, relembra.

Diferente de outras drogas, Fábio conta que a característica principal do chá do daime está justamente na fusão com o espiritual.

“Não é só como uma viagem de ácido, por exemplo, ou um chá de cogumelo, que mexe com a mente e a pessoa dá umas viajadas. Você vai para outro lugar mesmo, para o inferno, para o mundo espiritual. Você tem esse acesso até lá”, explica ao Guia-me.

A ruptura de Fábio Mota com a religião do Santo Daime aconteceu em 1996, após a conversão de seus pais ao Evangelho. A decisão de mudar o rumo de sua vida aconteceu num grupo de jovens da Igreja Renascer em Cristo, que anos mais tarde se desligaria da denominação de Estevam Hernandes para se tornar a Igreja Evangélica Bola de Neve.

Há quase quatro anos pastor da Igreja Bola de Neve de Caraguatatuba, litoral norte de SP, Fábio conta que hoje não precisa de nenhum artifício para ter uma vida sadia espiritualmente, preenchida exclusivamente por Jesus. “Na época do daime, eu parei de usar cocaína, porque não batia. Parece que você não consegue. Hoje eu enxergo, pelo lado espiritual, que o diabo te liberta de umas correntes e te aprisiona com outras. Você acaba ficando preso do mesmo jeito”.

Guia-me: Como você conheceu o Santo Daime?

Fábio Mota: Antes de ir para o Santo Daime, na verdade eu sempre gostei de “fumar um”, bastante maconha e ácido. Eu comecei a me interessar muito por viagem astral.

Quando eu soube que tinha uma religião, que você tomava um chá e dava aquela “despirocada” toda, eu já estava meio mal comigo mesmo. Sabe aquelas depressões, aquelas “vibes” que você não sabe o sentido da vida? Estava até meio que querendo morrer.

Aí eu soube da religião do Santo Daime. Um amigo meu começou a ir primeiro e me convidou. Eu acabei indo. Era em Itapecerica (SP), numa comunidade chamada Flor das Águas, que ainda existe.

Eu freqüentava, mas sabe aquele “convertido meia-boca”, que vai aos cultos aos domingos mas na verdade não pega firme? Eu comecei assim. Ia de vez em quando, buscava o lado espiritual.

Guia-me: Mesmo indo na Igreja do Santo Daime, o que te fez se interessar em participar dos rituais na Amazônia, local onde começou a religião?

Fábio Mota: Quando eu tomava [o chá] era algo muito forte. Você realmente sai de si. É algo demoníaco mesmo. Com o passar do tempo eu vi que precisava de mais. Aí foi quando eu fui para a Amazônia, no Acre, e quando eu quis conhecer de perto como começou a seita. Eu quis me aprofundar mesmo. Eu fui para o Acre, onde começou o Santo Daime com o Irineu, que eles chamam de “mestre Irineu”. Eu também sempre gostei muito de mato.

Do Acre eu fui para o Amazonas, num lugar que se chama Céu do Mapiá. São dois dias de canoa para chegar até lá, é bem na floresta mesmo. Lá eu fiquei uns 40 dias. Foi lá também que eu me fardei – que é tipo um batismo – e comecei a usar as roupas. Aí então eu comecei a frequentar o daime já fardado. Eu voltei de lá já sabendo o que eu queria – o daime.

Quando eu entrei no Santo Daime, eu ia por saber que podia tomar o chá, mas não por uma viagem de loucura, como acontece quando você toma um ácido ou chá de cogumelo, mas para poder usar o chá e auto me conhecer. Ia para poder elevar o meu lado espiritual.

O Santo Daime é uma mistura de catolicismo, espiritismo, umbanda. Os trabalhos começam às seis da tarde e vai até às 6 da manhã do dia seguinte. Você toma o chá e cada um tem as suas viagens, para tentar se auto conhecer e se curar de alguma coisa.  Inclusive esse rapaz que matou o Glauco, estava lá para tentar largar as drogas.

Eu cheguei a ir na casa do Glauco. Ele não era meu amigo, era mais do amigo que me levou para o Santo Daime.

Guia-me: Você chegou a conversar com ele?

Fábio Mota: Na época ele morava no Butatan, perto da USP. Eu fui algumas vezes lá, mas a gente não era próximo de ligar um para o outro. Não lembro exatamente o que falamos.

Guia-me: Um dos requisitos para fazer parte do Santo Daime é que não é permitido ser usuário de drogas, nem de bebida alcoólica. Isso é verdade?

Fábio Mota: Naquelas, né. A maconha, que é liberada, eles chamam de santa maria.

Quando você toma o chá de ayahuasca, é como se você conhecesse realmente quem você é.  É algo muito louco. É sobrenatural quando você se depara com você mesmo.

Guia-me: Como era o seu “eu interior”?

Fábio Mota: Eu era deprimido, com um vazio muito grande. As vezes as pessoas não querem realmente saber como elas são, vivem como se tivessem uma máscara. Quando você ministra alguém, aconselha alguém e fala a verdade, muitos se sentem machucados.

Muitas vezes, quando eu tomava o chá naquela época, eu me deparava comigo mesmo. Eu via quem realmente eu era. Eu não era aquela pessoa que eu fingia que eu era, aparentemente feliz. Com o tempo, eu fui me aprofundando e freqüentando mais.

Guia-me: Quando você freqüentou o daime, a santa maria era utilizada durante os rituais?

Fábio Mota: A maconha, santa maria, foi liberada pelo padrinho Alfredo quando ele recebeu uma visão da Maria [mãe de Jesus]. Ela disse para ele que podia fumar. Foi aí que começou a poder fumar. Todos usam a maconha, que eles chamam de santa maria. Eles fumam mesmo.  Quando eu estava no Acre, na floresta, eram desde os velhinhos até todo mundo fumando. É liberado durante as reuniões, mas não no momento do chá.

Aqui em São Paulo não se usa tanto porque eles ficam com medo da polícia, de repente tem alguém infiltrado. Numa época que estava havendo perseguição, eles proibiram a maconha nos rituais. Mas lá no Amazonas, pelo menos, que é tudo no meio da floresta, é tudo liberado. Você sai, fuma e volta.

Guia-me: Você disse que se deparava com você mesmo nessas viagens com o chá da ayahuasca. Mas como eram essas viagens? Eram sempre boas?

Fábio Mota: Eram várias viagens, desde boas até ruins. Uma vez eu tomei e quando eu abri os olhos eu estava num lugar escuro e quando olhei para mim eu me vi em forma de uma espécie de nuvem, sabe? Era só um espírito, algo que não tinha matéria. Aí veio uma outra na minha direção. Aí eu me assustei e tentei me soltar dessa outra “energia”. Aí ele veio na minha direção e eu me afastei. Aí um rapaz bate nas minhas costas e eu volto para onde eu estava. Eu acordei, abri os olhos e ele me disse: “- Pô, meu! Você quer brigar comigo no astral?”. Ele e eu e estávamos num outro lugar.

Guia-me: Essa viagem você classificaria como boa ou ruim?

Fábio Mota: Nem boa, nem ruim. Eu fiquei com medo na hora. Era como uma viagem astral, quando o espírito sai do corpo. O meu corpo estava na sessão, e o meu espírito estava num outro lugar. Eram várias situações iguais a essas em que você entrava num lugar com um monte de corpos. O seu espírito realmente sai do corpo. Não é só como uma viagem de ácido, por exemplo, ou um chá de cogumelo, que mexe com a mente e a pessoa dá umas viajadas, vê tudo retorcido, o chão balançando. Além de mexer com o inconsciente, eu creio que ele abre uma porta no mundo espiritual. É como um portal com entrada de demônios. Você vai para outro lugar mesmo, para o inferno, para o mundo espiritual. Você tem esse acesso até lá.

Guia-me: Como foi a sua conversão ao Evangelho?

Fábio Mota: Eu comecei a fazer faculdade de agronomia, no interior de São Paulo. Eu recebi uma Bíblia daquelas que tem só Novo Testamento e Salmos. Deus começou a falar muito comigo através daquela Bíblia. Aí teve um final de semana, que era dia de um santo que não me recordo qual era, que eu fui para São Paulo num trabalho desses.

Eu estava lá e já não estava me sentindo bem, meio deslocado. Já tinha tomado o daime, mas não estava me sentindo muito bem com aquela situação toda. Quando eu olho, eu vejo um demônio, na época ainda não sabia que era um demônio. Era uma nuvem preta me rodeando. Começou a me rodear, rodear, rodear. Aí ele parou e começou a olhar para mim no meu olho. Na hora eu falei: Jesus! Quando eu falei isso, ele foi embora. Aí eu tentei continuar no trabalho, mas já não conseguia. O meu carro estava parado próximo e eu fiquei dentro do carro até o final do trabalho por que tinha uns amigos meus que estavam lá e eu ia dar carona para eles, senão já teria ido embora para casa.

A partir daí eu também não voltei mais. Aí se passaram mais ou menos seis meses. Quando eu voltei de férias da faculdade, foi quando eu me converti na Igreja Renascer. Os meus pais já tinham se convertido nesse tempo.

É algo muito forte. O ácido que eu já tomei, chá de cogumelo, dessas viagens todas, o chá do daime é algo que não chega perto desses tipos de drogas. Ele abre uma porta para o espiritual e que te deixa mal mesmo.

Guia-me: Você passou por alguma triagem para poder fazer parte das reuniões?

Fábio Mota: Não. Como eu já cheguei com esse amigo meu que já tinha começado a ir, ele já conhecia um pessoal do meio também.Eu cheguei na verdade com todo mundo. Não teve triagem nenhuma.

Guia-me: Você tomava o chá só nos rituais?

Fábio Mota: Era principalmente nos rituais, mas eu cheguei a tomar fora também.

Guia-me: No tempo que você estava no daime, você usava outras drogas também, além da Santa Maria?

Fábio Mota: Na época do daime, eu parei de usar cocaína, porque não batia. Parece que você não consegue. Hoje eu enxergo, pelo lado espiritual, que o diabo te liberta de umas correntes e te aprisiona com outras. Você acaba ficando preso do mesmo jeito.

Guia-me: Como era lidar com a realidade quando você voltava do transe?

Fábio Mota: Depois da loucura do daime, eu sentia muita paz.Você ficava com o corpo leve e muito tranqüilo. O pós-daime era uma situação muito boa.

Guia-me: Segundo psiquiatras, nos primeiros efeitos do chá você sente um relaxamento. Com você era assim?

Fábio Mota: Quando abre o trabalho, você toma um pó. Aí não bate tanto. Quando você toma o segundo, depois de um intervalo de meia hora em que você fuma uma santa maria, come uma fruta, fica conversando,  e ai volta o trabalho de novo e você toma outro.  Aí é quando começa realmente a loucura toda. Numa reunião você toma metade de dois a três copos daqueles de café.

Guia-me: Os efeitos do chá eram imediatos ou demorava para acontecer as “viagens”?

Fábio Mota: Demora um tempinho, por volta de 1 hora. Começam as músicas, você fica lá dançando, até vir a loucura do daime. Mas esse tempo depende de cada um também.

Guia-me: O Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad) descartou a hipótese de dependência da droga, se ingerida somente nos rituais a cada 15 dias. Hoje você considera que era um dependente do chá?

Fábio Mota: Dependente do chá eu não era. Eu era dependente químico de maconha, numa época de cocaína. Eu nunca tive problemas com o chá. Mas eu sei que o diabo tem utilizado formas e formas para aprisionar as vidas. Essa é mais uma delas.

Eu creio que até essa morte do Glauco, queira ou não, foi uma forma para quem não conhecia o chá, passar a conhecer. Eu creio que muitas pessoas vão querer conhecer o Santo Daime por causa disso. Foi muito divulgada a doutrina. O interesse de muitas pessoas vai aumentar.

Guia-me: Você acredita que se comprovado que o rapaz tinha problemas psiquátricos que foram desencadeados pelo chá do Santo Daime, pode haver uma nova avaliação do Brasil sobre a regulamentação do uso do chá?

Fábio Mota: Eu creio que sim, se for comprovado que a culpa foi do chá. Eu vi nos telejornais que tiveram alguns outros casos, que um jovem se matou e a família está acusando o Santo Daime.

Guia-me: Os especialistas dizem que o chá não provoca violência nos usuários. Você chegou a presenciar algum surto de violência?

Fábio Mota: Realmente, pelo que eu vivi nesse tempo, o chá não causa momentos de violência. A pessoa fica realmente tranqüila. O corpo leve e cada um tendo a sua viagem. Nunca vi alguém se exaltar por causa do chá.

Se a pessoa já tem um problema psicológico, de repente o daime pode vir a causar alguma coisa. Só mesmo os médicos para dizer isso.

O porquê desse rapaz ter matado o Glauco, eu creio que ele já tinha um distúrbio há muito tempo de droga e loucura. Ele na verdade estava seguindo o mesmo caminho da mãe.

Fonte: Guia-me

Published in: on março 31, 2010 at 11:32  Comments (1)  

Cembranelli é ovacionado na missa de dois anos da morte de Isabella Nardoni

SÃO PAULO – O promotor Francisco Cembranelli foi calorosamente aplaudido nesta terça-feira ao entrar na Igreja Nossa Senhora dos Prazeres, no bairro Parada Inglesa, Zona Zorte de São Paulo, um pouco antes do começo da missa pelos dois anos da morte da menina Isabella Nardoni. O promotor, responsável no júri popular pela acusação do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, condenado pelo assassinato da criança, foi recebido com abraços e beijos pela mãe da menina, Ana Carolina Oliveira, muito emocionada.

A igreja, completamente lotada, tinha mais de 500 pessoas na missa que começou por volta das 20h. O padre que fez a celebração, Humberto Robson de Carvalho, foi o mesmo que batizou Isabella e que conduziu a missa de um ano pela sua morte.

-É bom a comunidade ver de perto quando temos alguém que luta pela Justiça – disse o padre Humberto ao se dirigir ao promotor Cembranelli, ovacionado pelos presentes à missa de Isabella.

Nesse momento, a mãe Ana Carolina Oliveira desabou de tanto chorar. O padre parou a missa e foi consolá-la.

De acordo com o avô da Isabella, José Oliveira, o único a falar antes da missa começar, a neta morreu nas primeiras horas do dia 30 de março de 2008, por isso a celebração religiosa ter sido marcada para este terça. Segundo ele, falando em nome pessoal, depois do julgamento o sentimento na família é de alívio.

– Estou mais tranquilo, mais sossegado, mais aliviado. Toda aquela tensão que nós sofremos na semana anterior, hoje nós estamos mais aliviados um pouco. Só estamos com saudade. Mas a saudade vai ficar, o tempo dificilmente vai apagar -disse José.

Todos os familiares de Isabella vestiam uma camiseta branca com a fotografia da garota e a frase “Isabella, para sempre nossa estrelinha”.

Antes da missa começar dezenas de camisetas foram distribuídas gratuitamente para os interessados, que se organizaram em fila.

Na madrugada do último sábado, o pai da garota, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, foram condenados pela morte da criança. O pai de Isabella foi condenado a 31 anos de prisão, e a madrasta, a 26. Eles estão presos em penitenciárias de Tremembé, cidade a 140 km de São Paulo.

O advogado de defesa de Alexandre Nardoni e Anna Jatobá, Roberto Podval, admitiu que são pequenas as chances de o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) decidir favoravelmente ao pedido de um novo julga-mento para o casal. Para Podval, o clamor popular que o caso provocou deve influenciar, pela proximidade do TJ dos réus. Ele disse que caso não obtenha sucesso, vai recorrer aos tribunais superiores e espera uma decisão favorável do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou do Supremo Tribunal Federal (STF).

Fonte: O Globo

Published in: on março 30, 2010 at 23:26  Deixe um comentário